Blog

EDILSON

11/04/2012 23:58

 


  1. MONÓLOGO DE UMA SOMBRA
 
  •  
  • “Sou uma Sombra! Venho de outras eras,
  • Do cosmopolitismo das moneras...
  • Pólipo de recônditas reentrâncias,
  • Larva de caos telúrico, procedo
  • Da escuridão do cósmico segredo,
  • Da substância de todas as substâncias!
  • A simbiose das coisas me equilibra.
  • Em minha ignota mônada, ampla, vibra
  • A alma dos movimentos rotatórios...
  • E é de mim que decorrem, simultâneas
  • A saúde das forças subterrâneas
  • E a morbidez dos seres ilusórios!
  • Pairando acima dos mundanos tetos,
  • Não conheço o acidente da Senectus
  • — Esta universitária sanguessuga
  • Que produz, sem dispêndio algum de vírus,
  • O amarelecimento do papirus
  • E a miséria anatômica da ruga!
  • Na existência social, possuo uma arma
  • — O metafisicismo de Abidarma —
  • E trago, sem bramânicas tesouras,
  • Como um dorso de azêmola passiva,
  • A solidariedade subjetiva
  • De todas as espécies sofredoras.
  • Com um pouco de saliva quotidiana
  • Mostro meu nojo à Natureza Humana.
  • A podridão me serve de Evangelho...
  • Amo o esterco, os resíduos ruins dos quiosques
  • E o animal inferior que urra nos bosques
  • É com certeza meu irmão mais velho!
  • Tal qual quem para o próprio túmulo olha,
  • Amarguradamente se me antolha,
  • À luz do americano plenilúnio,
  • Na alma crepuscular de minha raça
  • Como uma vocação para a Desgraça
  • E um tropismo ancestral para o Infortúnio.
  • Ai vem sujo, a coçar chagas plebéias,
  • Trazendo no deserto das idéias
  • O desespero endêmico do inferno,
  • Com a cara hirta, tatuada de fuligens,
  • Esse mineiro doido das origens,
  • Que se chama o Filósofo Moderno!
  • 2
  • Quis compreender, quebrando estéreis normas,
  • A vida fenomênica das Formas,
  • Que, iguais a fogos passageiros, luzem...
  • E apenas encontrou na idéia gasta,
  • O horror dessa mecânica nefasta,
  • A que todas as coisas se reduzem!
  • E hão de achá-lo, amanhã, bestas agrestes,
  • Sobre a esteira sarcófaga das pestes
  • A mostrar, já nos últimos momentos,
  • Como quem se submete a uma charqueada,
  • Ao clarão tropical da luz danada,
  • O espólio dos seus dedos peçonhentos.
  • Tal a finalidade dos estames!
  • Mas ele viverá, rotos os liames
  • Dessa estranguladora lei que aperta
  • Todos os agregados perecíveis,
  • Nas eterizações indefiníveis
  • Da energia intra-atômica liberta!
  • Será calor, causa úbiqua de gozo,
  • Raio* X, magnetismo misterioso,
  • Quimiotaxia, ondulação aérea,
  • Fonte de repulsões e de prazeres,
  • Sonoridade potencial dos seres,
  • Estrangulada dentro da matéria!
  • E o que ele foi: clavículas, abdômen,
  • O coração, a boca, em síntese, o Homem,
  • -- Engrenagem de vísceras vulgares —
  • Os dedos carregados de peçonha,
  • Tudo coube na lógica medonha
  • Dos apodrecimentos musculares!
  • A desarrumação dos intestinos
  • Assombra! Vede-a! Os vermes assassinos
  • Dentro daquela massa que o húmus come,
  • Numa glutoneria hedionda, brincam,
  • Como as cadelas que as dentuças trincam
  • No espasmo fisiológico da fome.
  • É uma trágica festa emocionante!
  • A bacteriologia inventariante
  • Toma conta do corpo que apodrece...
  • E até os membros da família engulham,
  • Vendo as larvas malignas que se embrulham
  • No cadáver malsão, fazendo um s.

 

MEUS SITE

11/04/2012 19:46

  edilsongato.blogspot.com

 

www.facebook.com/profile.p

 

@franciscoedils

 

 

 

Palavras-chave

A lista de palavras-chave está vazia.

 

Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo,
Espécie de acessório ou sobressalente próprio,
Arredores irregulares da minha emoção sincera,
Sou eu aqui em mim, sou eu.
Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.
Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.
Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.
E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco inconseqüente,
Como de um sonho formado sobre realidades mistas,
De me ter deixado, a mim, num banco de carro elétrico,
Para ser encontrado pelo acaso de quem se lhe ir sentar em cima.
E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua,
Como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda,
De haver melhor em mim do que eu.
Sim, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco dolorosa,
Como de um acordar sem sonhos para um dia de muitos credores,
De haver falhado tudo como tropeçar no capacho,
De haver embrulhado tudo como a mala sem as escovas,
De haver substituído qualquer coisa a mim algures na vida.
Baste! É a impressão um tanto ou quanto metafísica,
Como o sol pela última vez sobre a janela da casa a abandonar,
De que mais vale ser criança que querer compreender o mundo —
A impressão de pão com manteiga e brinquedos
De um grande sossego sem Jardins de Prosérpina,
De uma boa-vontade para com a vida encostada de testa à janela,
Num ver chover com som lá fora
E não as lágrimas mortas de custar a engolir.
Baste, sim baste! Sou eu mesmo, o trocado,
O emissário sem carta nem credenciais,
O palhaço sem riso, o bobo com o grande fato de outro,
A quem tinem as campainhas da cabeça
Como chocalhos pequenos de uma servidão em cima.
Sou eu mesmo, a charada sincopada
Que ninguém da roda decifra nos serões de província.
Sou eu mesmo, que remédio! ...

 

Sou eu

Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo,
Espécie de acessório ou sobressalente próprio,
Arredores irregulares da minha emoção sincera,
Sou eu aqui em mim, sou eu.
Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.
Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.
Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco inconseqüente,
Como de um sonho formado sobre realidades mistas,
De me ter deixado, a mim, num banco de carro elétrico,
Para ser encontrado pelo acaso de quem se lhe ir sentar em cima.

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua,
Como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda,
De haver melhor em mim do que eu.

Sim, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco dolorosa,
Como de um acordar sem sonhos para um dia de muitos credores,
De haver falhado tudo como tropeçar no capacho,
De haver embrulhado tudo como a mala sem as escovas,
De haver substituído qualquer coisa a mim algures na vida.

Baste! É a impressão um tanto ou quanto metafísica,
Como o sol pela última vez sobre a janela da casa a abandonar,
De que mais vale ser criança que querer compreender o mundo
- A impressão de pão com manteiga e brinquedos
De um grande sossego sem Jardins de Prosérpina,
De uma boa-vontade para com a vida encostada de testa à janela,
Num ver chover com som lá fora
E não as lágrimas mortas de custar a engolir.

Baste, sim baste! Sou eu mesmo, o trocado,
O emissário sem carta nem credenciais,
O palhaço sem riso, o bobo com o grande fato de outro,
A quem tinem as campainhas da cabeça
Como chocalhos pequenos de uma servidão em cima.

Sou eu mesmo, a charada sincopada
Que ninguém da roda decifra nos serões de província.