Ceará

Ceará pré-colonial

O Ceará era habitado ancestralmente por povos indígenas dos troncos Tupi (Tabajara, Potiguara, Tapeba, entre outros) e (Kariri, Inhamum, Jucá, Kanindé, Tremembé, entre outros), cujas tribos ainda hoje denominam vários topônimos no Ceará.  Estes povos já negociavam tatajuba, âmbar, algodão bravo e outros produtos com os estrangeiros que aportavam nas costas cearenses, antes que os portugueses chegassem em 1603 através do litoral. Os portugueses tentaram, já a partir de 1603, estabelecer-se nas terras cearenses, mas sem sucesso devido à intensa resistência dos nativos e à sua falta de conhecimento sobre como sobreviver à interveniência de secas. Só a partir de 1654, com a saída dos holandeses e o enfraquecimento político dos povos indígenas locais, é que os portugueses começaram a ter sucesso na colonização desse território. Os esforços de povoamento pelos portugueses visavam principalmente a vencer a resistência indígena e garantir o domínio luso contra estrangeiros.

Os navegadores espanhóis Vicente Yáñez Pinzón e Diego de Lepe desembarcaram na costa cearense antes da viagem de Pedro Álvares Cabral ao Brasil. Pinzón chegou a um cabo identificado como "Porto Formoso", que se acredita ser o Mucuripe, e Lepe, à barra do rio Ceará, em Fortaleza. Essas descobertas não puderam ser oficializadas devido ao Tratado de Tordesilhas (1494).

As terras equivalentes à Capitania do Ceará foram doadas a Antônio Cardoso de Barros na segunda metade do século XVI, porém ele não se interessou em colonizá-las.  Os franceses, que já negociavam âmbar-gris, as tatajubas, a pimenta e o algodão nativo com os povos indígenas, foram os primeiros europeus a se estabelecerem no Ceará. Em 1590 eles fundaram a Feitoria da Ibiapaba. Os holandeses também já negociavam com os nativos cearenses, a exemplo do capitão Jean Baptista Sijens, que esteve no Mucuripe, em 1600.

Em 1597/98, um ramo da etnia Potyguara que habitava a região ao redor do Forte dos Reis Magos, migrou e fixou-se na região entre as margens do rio Cocó e rio Ceará e os sopés nortes das serras de Pacatuba e Maranguape.

 Ceará Colonial

Graças ao contatos mantidos entre os índios Potyguara e portugueses, estes últimos planejaram chegar ao Ceará e estabelecer um ponto de apoio na jornada para os Maranhão. Desta forma a primeira tentativa efetiva de colonização portuguesa ocorreu com Pero Coelho de Sousa em 1603, que na sua fundou o Forte de São Tiago na Barra do Ceará. Em 1605, porém, sobreveio a primeira seca registrada na história cearense, fazendo que Pero Coelho e sua família abandonasse o Ceará.

Depois da partida de Pero Coelho, os padres jesuítas Francisco Pinto e Pereira Figueira chegaram ao Ceará com o intuito de evangelizar os silvícolas. Avançaram até a Chapada da Ibiapaba, onde ficaram até a morte do padre Francisco Pinto em outubro do mesmo ano. O padre Pereira Figueira retornou a Pernambuco em 1608, sem grandes sucessos.[19]

Em 1612, nova expedição portuguesa foi enviada como parte dos esforços de conquista do Maranhão, então dominado pelos franceses. Fazia parte desta jornada Martim Soares Moreno, que funda o Fortim de São Sebastião, também na Barra do Ceará. Ao retornar, em 1621, encontrou o forte destruído, mas lançou as bases para o início da exploração econômica pelos portugueses e o coovivência com os nativos.

Os holandeses, já estabelecidos em Pernambuco desde 1630, tentaram invadir o Ceará já em 1631, atendendo ao pedido das nações índigenas cearenses. Sendo que a primeira tentativa de conquista holandesa fracassou.

Em 1637, o território foi tomado pelos holandeses, graças um trabalho conjunto com os índios nativos, no qual os portugueses foram feitos prisioneiros e levados para Recife. Os holandeses estabelceram-se e também chegaram usar o Ceará com ponto de apoio a conquista holandesa do Maranhão, em 1641.

Nesta época de ocupação holandesa (1637-1644), o forte da Barra do Ceará foi reformado, foi construído um forte em Camocim, as pesquisas para a exploração das salinas foram feitas e em 1639, George Marcgraf vem ao Ceará numa expedição. Uma expedição que se deu partindo do Fortim de São Sebastião percorreu o oeste cearense até a região dos Imhamuns.

Os holandeses ficaram no Ceará até 1644, quando Gedeon Morris e sua tropa, que retornavam das batalhas no Maranhão, foram mortos numa emboscada organizada pelos próprios índios. Com a emboscada de 1644, o Fortim de São Sebastião também foi destruído.

Entre 1644 até 1649, o Ceará ficou sendo administrado pelas etnias então existentes. A presença européia só retorna em 1649, depois de contatos e negociações feitas entres os nativos e Antônio Paraupaba em 1648.

Com a chegada de Matias Beck, em 1649, o Siará Grande entrou num novo período histórico: na embocadura do riacho Pajeú, o Forte Schoonenborch foi construído, os trabalhos de busca das supostas minas de prata foram iniciadas e os holandeses procuraram mais uma vez se estabelecer na região, sob forte hostilidade dos indígenas.

Após a capitulação holandesa em Pernambuco, o forte foi entregue aos portugueses, restabelecendo-se assim o poderio português, rebatizando-o de Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção Neste período muitas das nações índigenas que apoiaram os holandeses, que não estavam protegidas pelo Tratado de Taborda, fugiram para o Ceará, procurando refúgio das retaliações lusas.[26] Desta forma, o Ceará acabou sendo o centro de batalhas na Guerra dos Bárbaros.

Na continuação da colonização pelos portugueses  a influência dos jesuítas foi determinante, resultando na criação de aldeamentos (Porangaba, Paupina, Viçosa e outros), muitos deles fortemente militarizados, onde os indígenas eram concentrados para serem catequizados e assimilados à cultura lusitana. Tribos tupis aliadas dos portugueses também vieram se instalar em vilas militarizadas na capitania. Dessas reduções surgiram às primeiras cidades da capitania, como Aquiraz e Crato. O processo de aculturação, no entanto, não se deu sem grandes influências de crenças e produtos nativos. A intensa resistência levou a episódios sangrentos, destacando-se a Guerra dos Bárbaros, ao longo de várias décadas do século XVIII, que resultou na fuga dos habitantes da capital Aquiraz, em 1726, para Fortaleza, que passou a ser a capital.

 
Primeiro mapa de Fortaleza de 1730.

Outras frentes colonizadoras surgiram com a instalação da pecuária na capitania através dos "sertões de dentro" e "sertões de fora", com levas oriundas respectivamente da Bahia e de Pernambuco Vilas como Icó, Aracati, Sobral e outras surgiram do encontro de rotas do gado tangerino, que era levado até as feiras ou fregueses. Mais tarde, o custoso transporte do gado perdeu importância para a produção da carne de charque que, no final do século XVIII, se disseminou também para a Região Sul do Brasil. Nas regiões serranas, houve grande afluxo de pessoas que se dedicaram à agricultura policultora, o que veio a caracterizá-las pela maior diversificação da produção e pela estrutura menos latifundiária que a do sertão. O vale do Cariri assentou-se menos na pecuária e mais na cultura da cana-de-açúcar, propiciando a entrada de maiores levas de escravos africanos. O litoral, refúgio de muitos indígenas e negros livres ou fugitivos, povoou-se de vários vilarejos de pescadores.

As principais vilas da capitania da época charqueana eram Aracati, Crato, Icó, e Sobral. A que mais ganhou destaque foi Aracati, devido ao comércio de couro e carne de charque. Entre os anos de 1750 a 1800, Aracati viveu seu apogeu  mas com uma grande seca na região entre os anos de 1790 até 1793, os rebanhos bovinos morreram e a produção de charque transferiu-se para o Rio Grande do Sul, que assumiu a posição de abastecedor principal das outras regiões.

 Capitania do Siará Grande

 
Mapa do Ceará feito por Mariano Gregório do Amaral em 1800.

Em 1799 o Ceará adquiriu independência em relação à Pernambuco, e Bernardo Manuel de Vasconcelos foi nomeado seu primeiro governador, sendo o responsável pelo início da urbanização de Fortaleza. No final do século XVIII, especialmente com a Guerra de Independência norte-americana, o algodão foi tomando relevante papel na pauta de exportações do Ceará. Com o declínio do charque, cuja distribuição era centrada em Aracati, Fortaleza se tornou a principal cidade cearense devido à sua condição de destino dos produtos agrícolas cultivados nas diversas serras que se elevam nas vizinhanças do município.

Em 1812 foi nomeado governador do Ceará o português Manuel Inácio de Sampaio e Pina Freire, o qual reuniu os literatos no palácio do governo e deu incentivo às artes e à urbanização da capital por meio dos projetos de Silva Paulet. No começo do século XIX o Ceará passou por movimentos rebeldes, como a República do Crato, em 1813, e também influências da Revolução Pernambucana de 1817, movimentos de cunho republicano-liberal liderados pela família cratense dos Alencar. Tais movimentos foram reprimidos com dureza pelo governador provincial do Ceará, Inácio de Sampaio.

 Ceará no Império

Em 1825 o Ceará tomou parte na Confederação do Equador, com o liberal Tristão Gonçalves aplicando um golpe e tornando-se chefe do governo. A Confederação foi frustrada pela forças imperiais, e Tristão morreu durante os combates contra as forças legalistas do Império. O ciclo de conflitos terminou com a Insurreição de Pinto Madeira, "coronel" de Jardim, que visava ao retorno da monarquia absolutista e representava interesses regionais opostos aos da cidade do Crato, de inspiração marcantemente liberal.

Em meados de 1860, devido à Guerra de Secessão norte-americana, houve um surto de crescimento da produção do algodão. Tal florescimento não durou muito tempo, mas deu grande impulso à modernização da infra-estrutura da Província como exemplo a Estrada de Ferro de Baturité, inaugurada em 1873. Em 1877, tem início a chamada Grande Seca de 1877-1879, um dos mais severos períodos de seca prolongada da história cearense, levando à morte milhares de pessoas e acarretando emigração maciça de retirantes. Fortaleza recebeu uma população de fugitivos da seca quatro vezes maior que a sua própria.

 
Jornal abolicionista "Libertador" de 25 de março de 1884.

Logo após, a produção da borracha explode na Amazônia, e muitos cearenses vítimas da seca migram para esta região.

A gravidade dessa estiagem chamou a atenção do governo central e mesmo de cientistas, havendo então a produção de textos científicos e propostas de melhoramento da situação da população cearense, cuja maior parte não foi posta em prática ou se relevou ineficaz. Por outro lado, houve um aceleramento nas obras do Açude do Cedro, em Quixadá, o primeiro do Nordeste, que só ficou pronto em 1906. A Grande Seca e as estiagens seguintes impulsionaram o surgimento da indústria da seca e geraram uma tradição migratória no estado. Entre 1869 e 1900, 300 mil cearenses abandonaram sua terra, 85% deles indo para a Amazônia.

Anos antes da proclamação da República notabilizou-se a campanha abolicionista no Ceará, que logrou abolir a escravidão no estado em 25 de março de 1884, quatro anos antes da Lei Áurea. O movimento contou com a participação de várias sociedades libertárias, inclusive a maçonaria, mas o maior destaque ficou com Francisco José do Nascimento, o Dragão do Mar, jangadeiro que impulsionou o abolicionismo ao comandar seus companheiros, em 1881, numa total recusa a transportar escravos para dentro ou fora da província. A primeira cidade brasileira a abolir a escravatura foi Acarape, atual Redenção, em 1º de janeiro de 1883. Devido a isso, o Ceará recebeu a alcunha de Terra da Luz, de início por José do Patrocínio. A escravidão, que jamais fora dominante no estado, estava praticamente extinta nos anos de 1880, de forma que não houve resistência à abolição mesmo por parte da elite agrícola.

 Primeira República e Estado Novo

 
Soldados das forças juazeirenses.

No início da Primeira República, apesar das estiagens que assolaram o Ceará, Fortaleza continuou a desenvolver-se econômica e politicamente, ao contrário do resto do estado. Ocorre nas primeiras décadas do século XX um afluxo de imigrantes, embora pequeno em relação ao de outras regiões, consistindo principalmente de portugueses e sírio-libaneses. Os descendentes destes, em particular, ganharam grande destaque no comércio, como mascates, e, futuramente, na política cearenses.

Começou a ganhar destaque a atividade dos cangaceiros, que, agindo em grupos organizados e promovendo saques em cidades e propriedades rurais, desestabilizaram o interior do Nordeste por décadas. A forte religiosidade popular e a grande miséria estimulavam uma profusão de líderes messiânicos e formas de fanatismo religioso. O cearense Antônio Conselheiro, de Quixeramobim, chegou a formar, na Bahia, o arraial de Canudos, cuja forte atração populacional e ideológica, contrária aos interesses da elite fundiária, deflagrou a Guerra de Canudos. Isso, porém, não extinguiu a influência dos líderes religiosos.

Entre 1896 e 1912, a hegemonia política foi monoliticamente concentrada nas mãos do comendador Nogueira Accioly e de sua família, que estabeleceram uma poderosa oligarquia que comandava a maior parte dos escalões do poder estadual. Em 1912, Accioly apontara como seu candidato Domingos Carneiro, contra Franco Rabelo, representante da política do salvacionismo do presidente Hermes da Fonseca, gerando uma conturbada campanha eleitoral. A dura repressão policial a uma passeata de crianças em favor de Rabelo, que causou a morte de algumas delas e feriram outras, desencadeou uma revolta de três dias da população fortalezense, forçando o governador Accioly a renunciar, evento conhecido como Sedição de Fortaleza. Franco Rabelo passou a governar o Ceará.